Sobre consumo (de roupas, sapatos e afins), incoerências e o desafio pra esse ano
- Ana Basaglia
- 21 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Há tempos reflito sobre consumo, por que trabalho com isso e por que me interesso pessoalmente também, sendo eu mesma uma legítima parte integrante dessa roda massacrante que chamamos 'sociedade contemporânea', ou sociedade do consumo.
Quero/não quero participar disso. Não quero, mas sou designer desde que me entendo por gente, sou total e completamente atraída para as novidades, as belezuras, os lançamentos do que é diferente, minha mente reaje certinho às notificações push (ainda que eu tenha desligado isso do meu celular, estou falando mais é do 'conceito'), por mais que eu saiba que é um mecanismo externo que quer me convencer do que eu não quero (ou preciso) ser convencida!
A pandemia, que começou o ano passado ~como todos sabem~, ajudou a dar uma arrefecida nessa tendência de consumo por aqui. Por conta do isolamento social, acabaram-se os passeios semanais nos shoppings da cidade e as pequenas comprinhas atreladas, acabaram-se as questões do tipo 'com que roupa vou sair hoje' ou 'que sapato liiiiiindo!', acabaram-se os encontros com tantas pessoas de tantos grupos distintos, outras precupações, muito mais importantes, tomaram conta de boa parte da minha mente.
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Pausa para uma historinha: no final do ano, uma amiga me pediu para responder um questionário sobre hábitos de consumo na internet. Claro, e lá fui eu pras questões on-line. Tem hábito de comprar pela internet? Sim. Confia? Sim. Quantos sapatos você comprou em 2020? ... NENHUM. Depois lembrei que comprei um tênis Adidas usado, num site de desapego, por que era um modelo fora de linha e uma pechincha. Que, aliás, nunca usei. Claro, se passei o ano em casa, passei descalça ou de meias, né?!
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Meus pais faleceram em junho do ano passado, num processo muito respeitoso de desligamento dessa vida. Estou relativamente em paz com isso. Desde então, ficou comigo o desmonte da casa deles. Não me incomodo muito, meus irmãos não fariam isso (cada um cada um), pra mim esse ir lá e decidir o que fazer com tantas lembranças me ajuda a pensar minha própria existência, meu passado e meu futuro. O resultado disso? Coisas e mais coisas deles aqui na minha casa, num exercício interessante de abrir espaço para elas sem, necessariamente, entulhar uma casa que já tem bastante coisa (significa que preciso abrir mão de coisas outras, óbvio).
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Por essa e por outras, no final do ano voltou o desejo de, finalmente, passar pela experiência de viver um ano SEM CONSUMIR NADA NADA NADA, experimento que já foi moda em outros tempos, outros blogs.
2021 e a continuidade da pandemia, agora que a gente está convencida de que precisará mesmo conviver com ela sem surpresas ou desculpas, pede essa ação. Eu posso fazer esse movimento, minha condição social, pra além de uma fala arrogante (parece, mas não é), permite que eu implemente essa 'regra' aqui: esse será um ano sem consumo de roupas e sapatos e coisinhas afins. Livros incluídos. Vai ser bom pra mim.
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Links que andei coletando nesses dias, quando estava refletindo se ia ou não ia embarcar nisso:
Vida simples – Um ano sem comprar roupa
Seja imensa – 5 coisas que aprendi quando parei de comprar roupas
Revista Modaa – Projeto: 365 dias sem compras
Lis Life Style – Como fiquei mais de um ano sem comprar roupas
E mais: UOL – Estamos muito descartáveis
Entrevista muito interessante com o CEO da Malwee, que aponta que, em média global, as pessoas usam suas roupas apenas 7 vezes e depois as descartam!!!! Portal Terra – CEO da Levi's fica um ano sem lavar calça jeans
Ahhh, essa nossa mania de lavar tudo... o CEO da Levis 'recomenda' que não lavemos nossos jeans!
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E as incoerências: em 2020 não comprei sapatos, comprei poucas roupas (basicamente, calcinhas e shorts de pijamas, além de algumas malhas quentinhas), mas... desde então, venho comprando uma quantidade absurda de LIVROS!!! Sim, sou editora, sim, gosto de ler, sim, preciso ter sempre um livrinho ao alcance das mãos, mas pelamordedeos, vou demorar pelo menos um ano pra ler tudo que adquiri em 2020!
Outras historinhas: já venho pensando nesse desafio desde o final do ano passado, mas em janeiro precisei trocar um presente dado pro sobrinho que acabou ficando aqui, troquei por um maiô pra mim. Precisava? Não, mas... Nesse mesmo mês, precisei trocar a calça jeans que ganhei no Natal e voltei com DUAS calças jeans. Precisava? Não, mas... Em fevereiro, zapeando por um site de roupas usadas, dei de cara com um vestido leve pro verão a um valor de pechincha, comprei. Precisava? Não, mas...
Assim, pra não virar o samba do maluco doido, vamos estabelecer formalmente as regrinhas para esse ano de arrefecimento do consumo:
- não comprar nenhuma roupa nova – as que eu tenho são suficientes!
- não comprar nenhum sapato novo – os que eu tenho são suficientes!
- não comprar livros novos – eu ainda tenho livro novo e fechadinho pra ler!
- não comprar nenhum gadget ou cacareco novo – o que tem aqui já me supre totalmente!
Exceções ~por que ninguém é de ferro, eu não sou~ precisam ser consideradas:
- se sair roupa/sapato do armário, via site de reuso, podem entrar outras peças usadas (mas precisa sair ANTES de entrar)
- se o Doutorado exigir (exigir) a leitura de algo específico, que não seja possível ler por empréstimo, vale a aquisição de mais livros, preferencialmente usados, fora da cota
- pra momentos de 'desespero' de consumo, terei a cota de 5 peças (considerando que tenho 10 meses pela frente) para consumo free, seja livro, roupa ou sapato, bijuteria, gadgets, mimos para a casa ou carro.
Se eu sair desse compromisso, publicamente aqui firmado, sou burra, besta, idiota (piada interna)... Fácil, vai, Ana Paula!!!

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