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Sobre a convivência feminina que me preenche

No último domingo, minha filha mais velha (que não mora mais conosco) passou em casa e me devolveu 2 peças de roupa que estavam com ela. Uma era uma camiseta que eu amava – e, aparentemente, ela também, mas agora desamou. A outra era um casaquinho de malha fina roxa, que eu já tinha esquecido da existência. Pra irmã, ela devolveu uma mini-bolsa de mão, com estampa animal print.

De vez em quando, ela leva pra casa dela algo que vê conosco e que lhe agrada, ou que lhe aquece, ou que lhe falta. Outro dia, ela ia numa festa, pediu pra caçula pegar no meu armário um vestido de alcinha. Ambas sabiam exatamente de qual peça estavam falando. Várias vezes, pediu – e levou, claro – batata doce assada (pra dar pro cachorro). Às vezes, vai algum agasalho. Meses depois, trás de volta uma camisa que estava encostada na casa dela. Ou uma colcha. Neste dia do domingo, trouxe também uma panela e uma garrafa térmica. Pra eu dar um jeito, algum encaminhamento, que essas não eram "devolução", eram só descarte na casa da mamãe mesmo.

No final do dia, a caçula também contou que tinha vendido no brechó on-line 3 peças de roupa. Dei uma olhada e protestei, essa malha vermelha não, que eu quero usar! Ok, vou "comprar" a peça, para menina não ter prejuízo. [se pensar bem, tô comprando a roupa pela segunda vez, melhor não pensar bem... rsrs]


É, de fato, uma delícia esse vai e vem de coisas entre a gente. Num primeiro nível que se observa, aquele mais superficial, esse troca-troca é gostoso por que parece que, quando você menos imagina, você "ganha" alguma peça (de roupa, de casa) que não estava esperando, mas que, sem esforço algum, é do seu agrado. Ou que está contribuindo pra alterar positiva e alegremente a rotina da gente com pouco esforço, sem gastar dinheiro, com algo que está ali, ao alcance fácil das mãos. Ou que tem um pedacinho seu lá – ou cá.


Mas tem também o viés mais sutil e profundo nessas trocas de objetos triviais. Tem o fato de saber que elas gostam e se vinculam com o que eu gosto e me sinto vinculada. Que elas se identificam com o que eu me identifico. Que elas se sentem bem com o que eu me sinto bem. Isso é muito especial! Isso é CONEXÃO. Natural, fluída, espontânea. Tem a ver com nossas afinidades, surge e se mantém de modo autêntico, posto que nada é imposto, simplesmente acontece (aquele lance da vida vivida nos pequenos intervalos dos grandes acontecimentos).


Eu me fortaleço nessas trocas. Passo a me sentir menos solitária neste mundão, pois sei que existem duas moças, inteligentes e independentes, que ainda assim retornam e vêm me fazer companhia, que estabelecem uma relação de intimidade comigo, trocando e partilhando afetos, ideias, vivências, sensações, impressões, preferências, apenas por que elas se sentem conectadas comigo. Isso realmente é ESPECIAL! E penso que é possível por que elas (e, obviamente, eu) estamos desarmadas e sensíveis e sem receio de nos colocar como vulneráveis, abertas para algumas trocas sensíveis. Nós confiamos umas nas outras. Nós gostamos umas das outras. Nós nos relacionamos com a guarda abaixada umas com as outras. Não estabelecemos barreiras muito altas ao nosso redor – só o suficiente pra não abusarem, pois estamos em 2022 e o cramulhão quer ser reeleito, esse idiota sem noção total! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


***


[ok, estraguei a poesia do meu texto, mas acho que finalmente, depois de quase 4 anos, achei um xingamento que me acalma: cra-mu-lhão. Canalha-cramulhão-fdp. Ô inferno...]


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Agosto tem sido um mês intenso. E cheio de assuntos femininos, pra mim. Mês tradicional pra falar de aleitamento, mas como tem acontecido já a uns anos, continuo sem energia pra seguir ativista, algo me atola, me segura. Participei do lançamento de um livro feminista, junto com uma amiga querida (mas ela foi pra longe, vou sentir falta, volta logo, L.). Tô editando outro livro feminista, que tava atrasado, mas desatrasei. Nunca tive dúvida, mas cada vez mais compreendo que EDITAR é minha vibe, é o que posso contribuir pra vida em sociedade. Tô lançando mais 2 livros, não, 3, não, 4! Amo! Venho me sentido cada vez mais plena nessa área.

Agosto foi o mês que revi minhas primas, aquelas que me conhecem desde sempre, que viveram e partilharam comigo muitas cenas fundantes. A gente se fala com regularidade, mas fica meses (até anos) sem se VER. Pois nos vimos duas vezes, e ainda retomei contato com outra; de novo, é o feminino marcando presença.

Agosto também sinaliza uma mudança no ritmo da minha terapia. Que tem sido muito importante até aqui, mas que vai mudar em alguma medida que ainda não definimos exatamente qual, por circunstâncias da vida. Ê vida, ê impermanência!

Agosto reforça meu amor pela minha catiora, e até encontrei um groomer pra ela. Como é rica a convivência com os animais de estimação. Tava assistindo "Marley e eu"; (re)confirmei que sempre foi um acerto escolher e permitir que meus filhos convivessem com pets.

Em agosto chegamos numa etapa importante do meu tratamento dentário. Com uma profissional sensível, que se dispôs a me escutar, enxergar. Tem cu$to, obviamente, mas tá valendo cada centavo. Tô feliz.


Em agosto tem perrengue também. Claro. Com gentes amadas, que imaginei que fossem mais adultas, amadurecidas, sensatas. Não são. Sei lá. De um jeito ou de outro, as pessoas são um poço de contradição, na maioria das vezes voltadas só pro próprio umbigo, com pouca disponibilidade pro outro. Sigo ouvindo pedidos repetidos de desculpas, ou ouvindo o nada, um extremo ou outro. Conversar honestamente e tentar ajustar? Nhéééé... :-(


Outro perrengue: consumo. Falhei fragorosamente no projeto de consumir com consciência neste ano. Mesmo trocando roupas com as filhas. Mesmo diminuindo, tentando, lembrando. Comprar é gatilho, né, a gente vive numa sociedade de consumo. DE-CON-SU-MO. Paciência, o jeito é tentar novamente. Reciclando e refazendo os combinados.


Que venha esse 2º semestre, mais curtinho, mas bem intenso. Tem mais leveza no Doutorado, mas tem eleição, tem família se juntando no final do ano, e tem algumas decisões importantes que precisarão ser feitas... Vam'bora.




 
 
 

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