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Morte, morte, morte – tudo faz parte da vida

Atualizado: 4 de fev. de 2022

2 de fevereiro, dia de Iemanjá (Yemoja), mãe das águas salgadas e dos outros orixás, mãe do mundo. Gosto de saber dela, mas sei muito pouco. Diz a lenda que Iemanjá, por ter amamentado seus 10 filhos-orixás, ficou com seios enormes. Ela é, portanto, uma senhora de ancas largas, que pariu toda a humanidade e todos os orixás e, com seus seios fartos, amamentou toda a humanidade. Amo. Segundo pesquisadores, Iemanjá é quem decide o destino de todos que entram no mar, ainda que sua imagem também esteja atrelada aos rios e desembocaduras. Iemanjá é a que comanda as cabeças, a que rege o domínio da consciência. Salve Iemanjá.


*** O dia começou cedinho com a notícia do falecimento da minha tia C., que estava hospitalizada pós-Covid. Ela tinha Alzheimer há muitos anos e era muitíssimo bem cuidada pelo meu tio (90 anos e lúcido) e minha prima, com o acompanhamento dos meus outros 2 primos. Seu falecimento era meio que esperado, ela passou alguns dias no suporte paliativo e, finalmente, descansou – da doença e dos desafios dessa vida terrena. Estava em paz, foi em paz. Fiquei em paz, tenho as melhores lembranças de infância na casa dela, foi uma vida bem vivida, com amor, conquistas, alegrias e perrengues (superados, uai, é assim mesmo!). Para meus primos se iniciam seus processos de luto...


***

Final da manhã, consulta dentária. Depois de muitos anos (anos, mesmo) de namorar à distância alguns profissionais de destaque na dentística, via redes sociais, finalmente tive coragem de marcar consulta e encarar com seriedade um tratamento dentário realmente bem feito. Não que as profissionais de antes não fossem boas, elas eram. Mas não eram 'de ponta', com acesso a equipamentos e abordagens de última geração. Às vezes isso é besteira; às vezes isso não é besteira. Tenho uma boca com problemas antigos e sérios, cheguei numa idade que achei que merecia esse tratamento especial. Bom, diagnóstico inicial desse dia: remover o dente, fazer um implante. As lágrimas simplesmente começaram a cair... Tenho muitas intervenções na boca, mas nunca cheguei nesse patamar, remover um dente que, em tese, está vivo e estável no seu lugarzinho... Vindo de uma profissional que prioriza salvar dentes, impossível não ficar chateada. Imediatamente, comecei a relacionar a morte prenunciada do meu dente com a morte anunciada da minha tia. São, obviamente, situações distintas, mas que ciclos estarão se encerrando?... Minha tia cumpriu seu ciclo entre nós (ela tinha 87 anos), meu dente poderá ainda ficar mais um pouco aqui comigo?... Saí do consultório com um pedido de exame específico, para poder decidir com segurança e sem pressa. Já meus primos não têm mais tempo e irão passar pelo processo do enterro sozinhos, por conta da pandemia e também para poupar o pai.


***

Saí do consultório e encontrei o marido, que foi me buscar. Oi, tudo bem? Oi, olha só, minha mãe teve uma embolia agora a pouco e não resistiu, acabou de falecer. PÁÁÁ! Minha sogra estava internada num hospital de cuidados paliativos a pouco mais de uma semana. Ela teve um tumor diagnosticado ano passado, operou, e a saúde vinha se deteriorando nos últimos meses. Na semana retrasada marido precisou levá-la ao PS, novos exames apontaram que o tumor estava alastrado, o prognóstico não era bom. Mas depois de dias com cuidados e medicamentos intensificados, ela estava estável e todos consideravam que ela ia retornar pra casa, para uma despedida mais íntima. Levei minha caçula pra visitá-la no dia anterior, ela estava lúcida e contente pela perspectiva de sair dali.

A partir dessa notícia, o dia adquiriu um ar de caos e suspensão, como tem de ser. Providências do mundo prático, falar com as pessoas, sentir, ligar, não ligar, seguir em frente, fazer, decidir, escolher, não escolher, deixar alguém mais escolher, as horas passaram, vai dormir, dia seguinte enterro+velório, pronto. Mesma vida, outra vida, totalmente diferente daqui por diante. Vejo meu sogro, 90 anos e lúcido também, se perguntando "e agora?". Fico curiosa pra saber como ele e os filhos (só homens) vão vivenciar esse luto...


*** Daí que eu estava relaxando e zapeando pela internet (acabamos de chegar do velório+enterro, com uma infinidade de coisa pra resolver mas sem nenhuma energia mais) e topei com uma postagem da maravilhosa Sonia Hirsch (ô mulher que fica melhor com o passar do tempo!), sobre os cinco lembretes do Buda, que ressoaram profundamente em mim:


1. Tenho a natureza de envelhecer, não há como escapar do envelhecimento.

2. Tenho a natureza de adoecer, não há como escapar da doença.

3. Tenho a natureza de morrer, não há como escapar da morte.

4. Tudo e todos os que amo têm a natureza da mudança, não há como escapar de me separar deles.

5. Minhas ações são meus únicos pertences verdadeiros, não posso escapar das consequências das minhas ações – minhas ações são o chão sobre o qual fico em pé.


Então resolvi ir até o site dela e comprar o livro "Velhas amigas", que tô namorando faz tempo... não há como escapar do envelhecimento e do fim da vida, mas antes disso posso ler e aprender um bocadinho a mais!


[foto: vasinho que veio da casa da minha mãe, florzinha colhida hoje do jardim da minha sogra]

 
 
 

1 comentário


Luti Lima
Luti Lima
03 de fev. de 2022

Quando se tem um dia cheio e bem cansativo, olhar a dor do outro às vezes traz aquele alento de sentir que não sofremos sozinhos, que somos muitos, com muitas dores, umas mais fortes, outras menores, mas ainda é bom sabermos que somos um todo. Palavras lindas nesse momento de perda seu, receba um abraço carinhoso. Meus sentimentos!

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