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Memória

Faz tempo que não venho publicar aqui meus pensamentos.

Não que eu não os tenha feito, não é isso, minha cabeça fervilha diariamente, manhã, tarde, noite, madrugada, o cabeção aqui me enlouquece.

Tenho feito registros específicos num arquivo de word, direcionados a uma pessoa.

Tenho feito registros em meus caderninhos reais, cada um direcionado a seu assunto também específico.

Escrevo diariamente no meu trabalho. Muitas vezes tento gravar áudios, porque acredito ingenuamente que seria 'mais rápido', mas nunca é, porque eu sou caótica nessas gravações e sinto necessidade de regravar muitas vezes... até que resolvo escrever!!!

Assim como escrevo, de maneira atabalhoada, também leio. Menos do que gostaria, acumulando referências 'pra ler depois', 'pra ler na sequência', uma pilha aqui, outra pilha ali, e ainda tem as inúmeras ABAS abertas do meu navegador...

Topei com uma dessas abas agora, um texto curto da atriz Maria Ribeiro, onde ela relata sua admiração pela mãe (idosa e doente), seu ímpeto pela escrita (e os motivos dessa escolha), uma crônica bem feita e que me alcança de maneira afetuosa.

É um texto terno, suave, me parece um texto de despedida. Deve ser.


Do lado de cá de sua cama, beijo suas mãos. Talvez mais por mim do que por ela. Ate onde somos nossos pais? Como vê-los frágeis, e, não fazer disso um espelho? Aquela mulher que eu queria ser, a musa da minha infância, a dona das maquiagens e dos cadernos que um dia eu teria... agora é tudo memória. Memória e também projeto. Nunca pensei como agora em como vou querer morrer — na medida em que isso é possível.

O trecho em negrito é um destaque meu. Porque é isso, acho que todo mundo beija, pensa, age, reflete, faz, tudo é por si, ainda que muitas vezes não saibamos disso.

Penso na pessoa que queria ser, na pessoa que sou hoje.

Penso na pergunta até onde somos nossos pais?, no que isso pode significar.

Penso nos meus próprios pais, no que não consigo mais dizer a eles. Nos beijos que não posso mais dar – e eu nem fui filha beijoqueira. Nas conversinhas bobas que não tenho mais, nas broncas, nas risadas, nas perguntas sobre minha infância que não são mais possíveis.

Penso, muitas vezes, como fui boba em não perceber que as pequenas besteirinhas me fazem imensa falta, ao mesmo tempo que estou imersa em resolver grandes besteironas que me atordoam agora. Então, quais besteirinhas estou perdendo HOJE?

Penso também na minha própria morte – que quero que esteja bem longe ainda –, em que nível de intimidade gostaria de ter com as pessoas do meu entorno, com as amizades, nas trocas, nos afetos.

E, ao pensar na morte, penso também nos meus filhos, em como estaremos convivendo, como estaremos cuidando uns dos outros – sem obrigações ou amarras, com ternura e presença. Hoje eles são do mundo (e é assim que a vida corre), mas quando eu estiver velhinha, teremos nós uma relação de troca e afeto tão bacana e bem urdida, a ponto do meu processo de desligamento desse mundo ser suave e sem mágoas, ressentimentos, arrependimentos?

Volto a pensar nos meus pais. E cada vez mais eu admiro o 'fim' de vida deles, com todos os defeitos que podemos apontar, nós, os imperfeitos. Eu tive tantos conflitos com eles mas, independente disso, pude aceitar e acompanhar o processo deles, que veio inexorável, independente da minha vontade. Veio, aconteceu, acabou, pronto.

O que (me) restou?

Agora tudo é memória.

Penso incessantemente nessa questão da memória, o quanto cada vez mais ela se mostra fundamental para mim. Algumas outras palavras me atravessam totalmente: afetos, coragem, troca, respeito, linguagem, símbolo, equilíbrio, escolhas.

E saudade. Hoje acrescento essa palavra, saudade.


Leia a crônica inteira aqui.


 
 
 

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