Escrita, esperança, raiva, vingança, equilíbrio
- Ana Basaglia
- 18 de jul. de 2022
- 4 min de leitura
Preciso escrever mais. Vou escrever mais. Vou escrever. Nota mental. Ahh, não posso esquecer, vou anotar. Cadê a caneta? Putz, esse lápis não serve, muito duro/mole/grosso/fino. Ahh, não gosto dessa caneta/cor/marca, onde tá a que eu quero pra escrever deslizandinho, tava aqui agorinha mesmo? Tô no banho, ainda vou colocar uma lousa aqui dentro do box. Quando sair daqui, preciso lembrar de x coisas. Vou anotar aqui na palma da mão, pra não esquecer. Acho que vou tatuar isso. Huummm, essa palavra é boa. Será-se tem tattoo dela, será? Opa, vou escrever aqui pra não esquecer. Humm, que que tá escrito qui mesmo, não tô entendendo a letra...
De vez em quando, gravo áudios no zap, pra deixar recados mais longos. É meio torturante pra mim... Em geral, gravo 3 a 4 vezes, no mínimo, pra ficar de um jeito que eu julgue aceitável. Se a filha está por perto, ela desdenha das minhas tentativas e solta logo um "porque você não escreve, é tão melhor escrever pra você..."
Esperança. Parei aqui e fui anotar no caderninho real mais essa palavra. Daí vi que já tinha anotado hoje de manhã... #soudessas
Isso me lembra que quero deixar marcado esse texto que recebi hoje cedo do Meio, sobre ESPERANÇA. Em busca da esperança perdida.
O texto fala do conceito de esperança, atrelado a uma visão de futuro. Essas duas coisas costumam caminhar juntas na política e levam a melhores resultados se e quando estão encampadas por algum líder carismático. Daí lembra de 2 políticos, Nelson Mandela e Tancredo Neves. Mandela, advogado que ficou 27 anos preso na África do Sul, depois foi solto e, em 4 anos, virou presidente do país. Não posso imaginar o que foi essa trajetória para ele, passar quase 3 décadas preso em condições muitíssimo precárias, com a liberdade tolhida, com o corpo sendo maltratado, e ainda assim conseguiu conduzir o país no sentido da esperança. Tancredo, apesar de ser um político mineiro conservador e tradicional, teve uma trajetória que muitos definem como digna e respeitosa. Foi extremamente hábil na época da abertura da ditadura militar, nos anos 1980, agregando pessoas e políticos diversos em torno de um desejo maior de liberdade e democracia no país.
E desesperança. "Um entendimento equivocado de esperança pode alimentar delírios coletivos, insensatez. Pode levar nações a escolhas bélicas, criminosas, contra outras nações ou seu próprio povo, tudo em nome de se entregar um ‘futuro melhor’, muitas vezes em nome de um passado idealizado". Vivemos temos sombrios no Brasil, a 3 meses de uma eleição calcada em medo, ameaças, mentiras, acirramentos, intimidação, perda de direitos, retrocessos, no meio de uma economia que privilegia os ricos e pune os pobres. Tá difícil manter a esperança, de fato, não está fácil sonhar, no coletivo ou no particular.
[ainda vou falar do Sonho Manifesto, livro sen-sa-ci-o-nal do Sidarta Ribeiro]
Voltando... o texto termina com um trecho bonito, que reproduzo aqui com destaque:
Nelson Madela estava certo. A esperança é uma arma poderosa. Ela nasce de uma visão de futuro que sejamos, todos, capazes de compartilhar. Aí, quando um líder é capaz de articular ambas no entorno de ideais democráticos. Nesses momentos, algo acontece.
Sei lá, né. Vamos esperançar. Com sorte, falta pouco pra essa tortura política que está em curso desde 2018 no Brasil atinja outro patamar, menos doloroso/doloso.

Ando monotemática e cansada, eu sei. Mas é que, hoje também, eu li outro texto que bateu muito fundo aqui. Esse de onde eu tirei a imagem acima (que, por sua vez, foi copiada desse perfil do Insta). Podia ser eu escrevendo, sem tirar uma vírgula sequer:
Tenho uma raiva em mim que não sei onde colocar. Ela não some com o passar dos dias, não é esquecida depois que o noticiário arrefece. Não, ela só cresce.
A autora tá falando, especificamente, sobre a raiva de ser mulher e ainda seguir tão exposta, de uma violência ancestral tão antiga e tão sem prazo para acabar...
Acho que é isso que me enfraquece tanto, saber/reconhecer essa violência e essa solidão. As mulheres estão SOZINHAS nessa batalha. Eu, pelo menos, estou. Entendo o conceito de manter a esperança e a fé na vida, da necessidade de se blindar para evitar tanto desgaste, de buscar um equilíbrio. De reconhecer e viver bem com meus privilégios, alguns nem são privilégios (alô, R., eu sei, preciso parar de agradecer por ter o básico, preciso parar de me sentir culpada por isso. Wikipedia: privilégio social é um direito especial, vantagem ou imunidade concedida ou disponível somente a uma pessoa ou grupo específico. Ter um teto e um trabalho é básico, não pode ser considerado privilégio).
É que eu sinto RAIVA o tempo todo. Daí, durante a caminhada hoje, pensei (mais): não me sinto acolhida é pelas pessoas próximas de mim e é por isso que essa raiva se faz ainda maior, mais constante, mais real, mais enlouquecedora, mais raivosa. Se eu pensasse menos, se eu esperasse menos, se eu me contentasse com menos, talvez minha raiva fosse menor, né?...
Ao mesmo tempo, tem pequenas coisinhas na vida que me enchem de alegria e quentinho no coração. Reconheço. Enxergo. Mas continuo alimentada na raiva.
Preciso resolver isso. Fico pensando (mais?) que uma vingancinha, como a imagem do post sugere, poderia me trazer conforto, mas esse pensamento esmorece rápido. Não quero vingança. Sei que muita coisa não tem sido justa nesse mundo, muita, demais, mas não tenho vontade de vingança, sei disso. Quero é EQUILÍBRIO. Quero é harmonia e paridade na vida. Quero respeito. Quero moderação. Nada muito comedido ou rígido, sei lidar com os balanços da vida. O que não sei lidar é com essa raiva toda, que me adoece, que nos adoece...
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