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Escreva, Ana, escreva

Minha terapeuta me instigou a escrever uma carta pra Ana de 21 anos, uma menina que estava entrando no mundo adulto, casando, tendo filho, indo morar num apartamento já com um monte de responsabilidade nas costas, mas mal sabendo fazer um arroz ou tomar conta das contas, sem nem estar formada na faculdade ou trabalhando num emprego decente.


Mas, Ana, escrever o quê? Escrever mais? Como escrever e falar o que poderia ter sido, ou como escrever e avisar o aviso que nunca vai chegar a ser considerado, de fato? Eu sou criativa, gosto de fantasias, mas travei, algumas coisas na minha vida pre-ci-sam ter verossimilhança ou eu empaco mesmo, a escrita pra mim costuma ser assim.


Além disso, só sou o que sou, hoje, por conta de toda minha trajetória trilhada até aqui, né? Com os acertos e os erros, tudo junto e misturado. Se fosse possível escrever algum aviso pr'aquela menina com algum poder de mudança, a trajetória seria outra, e eu HOJE seria OUTRA, uai! De que adianta escrever algo pra OUTRA pessoa, que não seria eu hoje?


Ao mesmo tempo, talvez seja uma maneira de exortar alguns pensamentos mais amorosos comigo mesma, sei lá, um modo de refletir sobre algumas escolhas feitas naquela época, e talvez seja uma maneira de, ao colocar no papel alguns temas daquela época e olhar aberta e francamente, talvez eu possa compreender melhor o estado que me encontro hoje. Porque tô cansada, sabe? Tô triste. Tô me vendo diante de uma escolha difícil (não, a escolha em 2018 NÃO ERA UMA ESCOLHA DIFÍCIL, era bem simples e fácil de fazer) e me sinto estagnada, desenergizada, enfraquecida. E triste.


Não durmo bem há meses, o corpo anda dolorido e travado, meu raciocínio se mostra meio distraído ou desconcentrado, eu claramente tô rodando em círculos. O trabalho vai aos trancos e barrancos, o estudo não se despacha como deveria, o dinheiro se esvai, a perspectiva de futuro às vezes parece nebulosa, eu quero mas não sei se quero, eu quero parece que coisa demais, ou diferente demais, ou demais pra mim, ou demais só pra mim.


Ana, você nasceu por si e vai morrer por si, portanto, respeite-se, lembre-se disso! Sua trajetória é importante, sua vontade é importante. Ter filhos é assumir um trabalho de muitos anos, é uma delícia e vale a pena, mas só isso não te define com exclusividade, existe vida além disso. SUA vida! E, amor, entenda, você dá conta apenas da SUA vida, não da vida dos outros, né?!


Cuide da sua energia, dos seus pensamentos, da sua grana, da sua estrutura, do seu desejo, do seu equilíbrio. Cuide de sua autonomia. Da sua saúde, do seu bem-estar, da sua alegria, dos seus dentes (e sim, você pode, da maneira que for possível), da sua pele, das suas amizades, dos seus afetos, da sua visibilidade, da sua curiosidade, da sua vivacidade.


Ana, cuide de você, querida! Seja feliz, seja dona do seu nariz. E onde não houver mais felicidade – ou possibilidade de cuidado, de afeto, de respeito, de futuro junto com o presente –, não se demore muito. Ana, quando estiver mais claro o que precisa ser feito (e vai estar, é um processo, você já passou por isso milhares de vezes), faça. Simplesmente, faça.




 
 
 

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