De mim, para mim mesma
- Ana Basaglia
- 28 de jan. de 2023
- 2 min de leitura
Vi essa reflexão no FB de uma amiga, que perdeu o marido (minha idade) em 2021:
Há 2 anos escrevo cartas que você não lê. Tenho lembranças muito vivas da sua presença aqui. Como se eu tivesse te visto ainda hoje, não preciso me esforçar para recordar sua voz, a textura da pele, o cheiro, o jeito. Ao mesmo tempo tenho a sensação ou intuição que não existe mais nenhuma conexão sua com a vida aqui conosco. Nenhum apego da sua parte. Você não é - felizmente - um espírito que anda pela casa ou "olha por nós" de alguma forma. Penso que a vida na Terra é significativa a cada encarnação, mas insignificante dentro da grande jornada do espírito. Há 2 anos escrevo cartas para mim mesma.
Este texto reverberou muito aqui em mim.
Porque acho que é isso, quando penso cotidianamente nos meus pais, que faleceram em 2020: que bom que não os percebo apegados na Terra, que acho que eles seguiram na jornada espiritual deles.
Ao mesmo tempo, tenho lembranças vívidas deles, notadamente da minha mãe (provavelmente porque convivi mais com ela, ao longo da vida, ou porque mãe é mais visceral mesmo, sei lá), e muitas vezes bate uma tristezinha, uma saudade, um lamento de que a vida como eu a conhecia/vivia tenha se encerrado e que eu nunca mais possa ver ou falar com eles... Sei que, racionalmente, é assim que é. Também não acho que a vida seja "injusta", não é isso.
É só que, com certa frequência, bate um sentimento cuja definição me foge aqui, quando me percebo órfã hoje, não ter colo de mãe, não ter colo de ninguém como a mãe da gente...
E essa escrita toda... não alcança ela, nem ele, né?
As cartas que escrevo, todas elas, eu as escrevo para mim mesma.

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