Batom vermelho

Outro dia encontrei com uma querida amiga, mulher com quem eu divido a muitos anos sobre ativismo, as amizades, reflexões feministas, desabafos e conquistas dos filhos, nossos afetos... e reclamações sobre marido (muito mais eu que ela, #fato).

Ela mudou de cidade e, cada vez que está por aqui e sobra um tempinho, marcamos um café e um bate-papo.

Daí cheguei-chegando de batom vermelho.

Ela estranhou, com toda razão.

Costumo ser bem low profile com minha imagem, mal uso maquiagem no dia a dia (e nos eventos sociais também, por extensão), me dá aflição a pele com reboco, os olhos com algo melequento (e se eu precisar chorar? e se eu precisar coçar o olho vigorosamente? essas coisas me acometem diariamente, como faço depois, sigo como um panda?), a boca chamando atenção pra essa parte do rosto... Sei que o senso comum aponta que mulheres que usam batom vermelho são confiantes, independentes, sensuais, empoderadas (ô palavrinha batida), seguras de suas ações e escolhas. A indústria nos martela isso todo dia, cinema, TV, revistas (isso ainda existe?), shoppings, as influencers todas de bocão vermelho...

Eu refuto veementemente essa submissão ao status quo da indústria da moda, aquariana que sou, mas ultimamente tenho usado bastante batom vermelho.

E tenho GOSTADO do reflexo que vejo no espelho: uma mulher de boca bonita e saudável, madura, que sabe que tem muito a dizer, independente de se expor ou não (porque não sou obrigada a nada), que se diverte com a boca pintada, vermelho encanto ou nº 9, os preferidos da vez.

Mas não, gente, sou nada sensual... kkkkkkkkk

ps: pra amiga, ainda tem mais uma camada de leitura, a do recado "m., cuidado, tô impossível hoje". Piada interna.